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Vilipêndio

Vilipêndio

05 de Outubro, 2021

Uma tríade de acontecimentos

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As últimas horas foram interessantes para quem acompanha as notícias do mundo.

Para começar, fomos confrontados com mais um mega processo de divulgação de documentos relativos a contas offshore de personalidades de todo o mundo. Como não podíamos faltar à festa, lá se encontram três nomes de portugueses no meio daquele oceano de documentos. Não é que daqui a um mês ainda estejamos a falar disto, ou por ser demasiado longo ou demasiado incómodo, o que é certo é que todos parecemos esquecer estes mega fenómenos de forma bastante rápida, como os Panamá Papers ou outros que tal. 

Que existe um planeta, uma lei, uma realidade para todos nós e outra para as elites já não temos grandes dúvidas. É positivo que saiam estes documentos e é mais do que positivo que se comece a falar sobre essa balança cada vez mais desequilibrada.

De seguida, no 60 Minutos da CBS, outra bomba surgia. Uma whistleblower ex-funcionária do Facebook decidiu revelar alguns dados sobre a sua ex-empresa e, entre outras coisas, assegurou que o Facebook dá primazia ao discurso de ódio e de divisão porque isso traz mais visualizações e - é fácil de chegar lá - isso significa mais lucros de publicidade. No fundo, o que Frances Haugen revelou (com a importância de ser uma ex empregada de Zuckerberg) é o que já boa parte das pessoas sabe: o Facebook está a minar a nossa sociedade há largos anos, de forma organizada, planeada, propositada e gerando, com a manipulação de milhões de mentes e a criação de um vício tóxico, um lucro enorme. Interessa pouco se os pilares da democracia sofrem com isso, interessa pouco se milhões de pessoas são levadas para um buraco negro de desinformação ou se milhões de adolescentes sofrem com o impacto destas redes na sua saúde mental, pouco interessa a Zuckerberg excepto o dinheiro e o poder que com ele vem.

Com isto, chegamos ao último ponto desta maravilhosa tríade. O apagão de cinco horas que ontem atingiu as empresas do grupo do Facebook, onde se junta o Whatsapp e o Instagram. Durante cinco horas, o mundo foi ligeiramente melhor. Durante cinco horas, não houve tanto barulho no mundo. Não houve mentiras e ataques pessoais a serem partilhados nos feeds desse mundo nem imagens de miúdas que cresceram a venerar as falsidades que uma imagem do instagram apresenta. Não houve nem uma nem outra. Durante cinco horas, as pessoas tiveram que comer sem fotografar o que comem e sem poder dizer que o estavam a fazer. Dá que pensar se deveras o mundo existiu nessas horas, se girou em torno do Sol e se o vento continuou mesmo a correr entre árvores e rios.

É fácil associar este apagão com a revelação, no dia de anterior, no 60 Minutos. Mais difícil será ligar os Pandora Papers a tudo isso. Mas quem me proíbe, aqui, disso? 

Foram 24 horas interessantes, disso não há dúvida. Muito pó a ser levantado e muitos egos a serem incomodados. 

Uma tríade de acontecimentos que eu, neste meu canto da ignorância e pequenez, não consigo justificar por inteiro. Apenas consigo maravilhar-me com ela e com este mundo que parece estar constantemente a mudar, ao minuto e ao segundo, mas, ao olharmos de perto, percebemos que permanece sempre igual.

Ilustração SR. GARCIA 

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