Sejam melhores

António Costa caiu e com ele cai mais um governo de maioria absoluta. Uma década depois de assumir a liderança do governo português e um ano e meio depois de ter ganho uma maioria absoluta nas últimas eleições legislativas. Apesar da atitude digna de Costa, ao demitir-se meras horas depois de ser conhecido que estava sob investigação, isso não apaga a imagem de um executivo apanhado em mais uma teia de tráfico de influências e corrupção.
A classe política portuguesa precisa de ser melhor, tem que ser melhor. Estamos todos fartos dos eternos casos e casinhos, o país precisa de gente séria ao leme.
Quando vemos os valores da democracia atacados um pouco por todo o mundo, quando assistimos ao crescimento do populismo anti-sistema, dói ainda mais ver governantes esbanjar por completo a sua respeitabilidade e a confiança que neles foi depositada.
Há uma corrupção sistémica no nosso país, sabemo-lo há muito tempo. Mas está na hora disso mudar.
É revoltante ver como os políticos que acenam com o fantasma da extrema-direita anti-democrática há anos são os mesmos que todos os dias dão razões para que ela cresça. Acumula-se o desgaste de ver políticos que deviam fazer da credibilidade deste sistema a sua maior luta ignorar por completo o seu papel na sua protecção. As pessoas estão cansadas de serem peões num jogo de influências, as pessoas estão fartas de um sistema que só serve alguns: os mesmos de sempre. Fartos de um país que tem sempre duas velocidades, para quem tem uma cunha e quem não tem, para quem tem poder e para quem não tem. Os interesses do cidadão comum nunca estão em primeiro lugar, assim parece.
Isso é inadmissível, é um ultraje e nós merecemos mais e melhor. O país merece mais e melhor.
Se há algo positivo no meio deste lamaçal, é ver como não há quem possa fugir à lei, por mais importante que seja o seu cargo. É de louvar e mostra saúde numa das fundações de qualquer democracia: a sua justiça.
Contudo, no que diz respeito à classe política, essa é muito fraca em Portugal. Falta-lhe seriedade, escrutínio, isenção e idoneidade. Poder não pode significar o "vale tudo", mas por cá é isso mesmo que se verifica.
António Costa cai com estrondo mas infelizmente já quase todos perguntamos o mesmo a nós próprios: não serão todos iguais?
Isso é quiçá o maior sinal de uma democracia doente. Penso que não tardará a chegar a hora em que iremos ver as consequências reais disso.
Um país a sério não é um país de cunhas, amigos e amiguinhos. É um país de todos. Portugal ainda não é esse país.
Fotografia: Tiago Petinga (@Expresso.pt)