Relações humanas
Se, no final dos nossos dias, fizéssemos um sumo da vida, se lhe tirássemos a parte que realmente importa, tenho a crer que o sumo seria feito de histórias com pessoas, de tudo o que tenha a ver com outras seres humanos, as nossas relações humanas.
Desde cedo que vivo as relações com outras pessoas de uma forma que mesmo hoje, aos 33 anos, continuo a descobrir e a tentar diariamente entender. Nem sempre consigo ser a pessoa para os outros que desejaria, diria que o mesmo nos acontece a todos provavelmente, mas quando me dedico a elas, dedico-me de forma bastante intensa. Tenho bem ciente que as outras pessoas, as suas cabeças, as suas histórias e opiniões, sempre foram a porção mais importante da minha história.
Podemos todos ter feitios particulares e uma forma muito nossa de caminhar este caminho diário, podemos carregar visões bem diferentes da vida e do mundo, mas o que podemos dizer que partilhamos é essa pequena particularidade de sermos todos da mesma espécie animal.
E está ainda por descobrir a fórmula mágica, o famoso sentido da vida, a filosofia que explique o que parece ser indiscernível, mas o que me parece evidente é que a nossa história, ou a parte mais importante dela, é escrita na reflexão dos outros. É nos e com os outros que vamos conhecendo mais sobre nós próprios. A nossa auto-definição não é dissociada da gente que não é a gente.
Muitas vezes podemos mesmo definir tudo o que nos aflige, num dado momento, dessa forma: "são as relações humanas".
Existe um certo individualismo a correr pelas veias das nossas sociedades actualmente, um "cada um por si" resultado de um sistema cada vez mais competitivo, de uma forma de ver a organização das nossas sociedades assente no sucesso individual. Contudo, ainda somos apenas a mesma espécie animal e, tal como todas as espécies animais, a nossa sobrevivência irá estar sempre dependente uns dos outros.
Excepto se o objectivo das nossas sociedades não for a sobrevivência de todos nós, dos outros animais ou do planeta. Excepto se o objectivo não for o bem de todos mas apenas o bem de alguns.
Se assim for, parecemos estar no bom caminho.
Quanto mais vivermos dentro de nós, para nós e apenas para nós mesmos, mais perto estaremos de falhar.