Quem manda no final
As imagens que chegam do terramoto na Turquia e na Síria são absolutamente devastadoras. A tragédia ainda nem sequer está totalmente contabilizada, os abalos ainda se sentem, o pó do trauma ainda não assentou. Os mortos ainda se contam.
Não há muito a escrever sobre mais uma perda inimaginável de pessoas, animais e bens, mas há muito a sentir e discernir na pequenez de todos nós perante tais forças. É como se durante aqueles segundos, pudéssemos ver a suspensão total da noção de vida que temos. A suspensão das leis que nos regem no dia-a-dia. O desmontar total de hierarquias, de poderes e de forças. O fim da ilusão que controlamos o nosso amanhã. Tudo muda, a terra está a tremer.
Durante segundos, a noção da existência altera-se como nunca nos acontece em momento algum da vida. Nem mesmo um vulcão ou um furacão parecem ser comparáveis aquilo que transmitem as imagens de um terramoto daqueles.
A terra tremer, tudo abanar. Tudo isto de um segundo para outro, sem qualquer aviso. A terra tremer e não parar de tremer. Durante segundos tornado horas, porque o tempo é outra das coisas que morre naquele momento. O tempo passa a ser um caminhar lento, e o tempo nunca mais é tempo quando o que nos apoia o corpo não pára de tremer.
Nunca deixaremos de ser pequenos enquanto vivermos num planeta como este, em que quem manda é definitivamente a natureza e as suas leis. Nunca seremos pouco mais que ninharia, um fragmento impotente.
Enquanto precisarmos de chão para andar, a terra é a dona do nosso destino. O mesmo destino que foi arrancado a milhares de pessoas na Turquia e na Síria e que deixou em milhões a certeza que, no final de contas, não passamos de convidados num planeta traiçoeiro.