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Vilipêndio

Vilipêndio

28 de Junho, 2019

Partido RAP

O programa de Ricardo Araújo Pereira foi de férias e volta em Setembro, a tempo das eleições legislativas. Acompanhei o programa desde a sua estreia, porque sou fã de humor, especificamente do humor do Ricardo, e porque sou fã da nossa política.

Vejo como curioso o pouco barulho que se fez à volta do programa, ao contrário de outros projectos do RAP, neste caso parece que se esfumou algum desse mediatismo. Apostou num formato mais nitidamente político, sem sketches e personagens, muito ao estilo americano do Daily Show. Infelizmente para ele, no que toca a espectadores, isto não é os Estados Unidos. Não existe, no público consumidor de televisão em Portugal, uma grande vontade de ser instruído politicamente. Ou sequer de ver política. A constante abstenção é disso prova. Ninguém quer isso, mas foi isso mesmo a que o Ricardo se propôs. Tomem lá, é isto que temos, pareceu ele dizer ao longo dos vários episódios.

Mostrou imagens que não cabiam na interminável hora e meia de todos os jornais, analisou as eleições europeias em segmentos de 25 minutos semanais como nenhum painel de comentadores reputados em duas horas, deixou-nos imagens de sessões parlamentares de inquérito, dos mais variados casos que tanto orgulham o país, que são um hino ao absurdo, mostrou padrões de comportamento de políticos, fazendo-os chegar ao mais puro ridículo, expôs opiniões presentes e passadas (mas não tão passadas assim) de personalidades que são marionetas do momento actual, escapelizou mensagens e estratagemas políticos. No fundo deu à política a atenção que ela tanto anseia. Só é pena que quanto mais perto estejamos do espectáculo de pior qualidade ele pareça.

Tenho memória de vários momentos em que ele conseguiu ridicularizar de forma bastante proveitosa todo e qualquer grande partido político. Parece obra complexa, mas ele, aliado a outros tantos malucos, faz aquilo parecer coisa simples. Lembro-me, também, de situações em que ria mas acabava a perceber que aquilo de que me ria era uma triste verdade. O trabalho que ele faz não é fácil, mas alguém tinha de o fazer.

Por esse motivo, penso que se pode chamar ao Ricardo Araújo Pereira o humorista agridoce. Quanto mais ele nos faz rir mais devíamos chorar.

 

Imagem: João de Matos \ TVI c

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