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Vilipêndio

Vilipêndio

24 de Julho, 2024

Oito anos

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Existem vários pesos colados ao processo de luto. Temos várias lutas simultâneas. Uma das lutas é querermos lidar de uma forma específica, perfeita, atingirmos o luto certo.

Eu não sei se o meu é perfeito ou mesmo certo, mas escrevo porque passam oito anos do dia da morte da minha mãe e não me parecem haver motivos mais significativos para se dar ordem a pensamentos por meio de palavras.

Há oito anos, o mundo mudou e ele não soube disso. E eu carrego o peso dele ter mudado, na ausência de conhecimento por parte do próprio. Não sei se o meu mundo será o mundo todo, grande e redondo, mas é o meu.

Há oito anos escrevi algures que, ao perder a minha mãe, um braço me havia caído. Não o voltei a ter. Não o voltarei a ter, por certo. A minha mãe foi e já não é, há oito anos, há quase três mil dias. Foram dias, bons e maus, mas eles seguem-se e assim irão fazer sempre.

E nós sabemos que a única certeza na vida é que ela acaba. O caminho estará, quiçá, em perceber como é que lidamos com esse facto.

Eu admito à partida que não tenho a certeza se consigo entender o conceito.

Contudo, enquanto a memória for a de um ser que está vivo, a memória pode ser alguém, que é ou já foi. Nem nós sabemos o que é isso de ser, e ter sido, alguém.

Agarro-me a isso e tento não me frustrar com a existência de lutos certos e lutos errados. 

Passaram oito anos da morte da minha mãe e eu quero é que o tempo vá à merda.

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