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Vilipêndio

Vilipêndio

20 de Agosto, 2020

O discurso de Obama

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Este discurso de Obama, parte da Convenção do Partido Democrata norte-americano deste ano, devia ser xarope a tomar uma vez ao dia por todos nós, durante um período de tempo.

Interessa não só os americanos, que, ao sofrerem de duas doenças em simultâneo - o coronavírus e o vírus do populismo racista -, nos deram amostra do que pode ser o futuro de muitos outros lugares deste mundo se se deixarem cair no mesmo erro, mas interessa também a todos nós, cidadãos de um mundo cada vez maior e cada vez mais pequeno, tão pequeno que cabe no bolso de uns calções e na palma de uma mão. 

As recentes ameaças a representantes políticos por parte de elementos da extrema direita em Portugal é só um sintoma de uma doença silenciosa mas que começa, agora, a dar sinais claros e visíveis. A maleita estava já presente no nosso sistema, contudo dava apenas sinais pouco evidentes, nas franjas da sociedade. Com o advento das redes sociais e da utilização em massa das mesmas, o que aconteceu foi a agudização gradual desta doença. No cacofónico e caótico mundo da Internet, tudo é verdade até não ser, tudo é o que é e o que nunca foi. Esta doença, tal como a maioria delas, só tem tendência a proliferar e a agravar-se, se não for combatida eficazmente. 

Vendo como o Brasil elegeu o seu pseudo-ditador, vendo como os valores da democracia tradicional deixaram de ser um bem adquirido, inegociável e imortal e, inclusive, vendo como nós portugueses ostentamos a nossa versão especial de um mini-Trump, uma personagem que passou, há algum tempo, de estar apenas à espreita e entrou, de facto, pelas portas da política portuguesa, vendo tudo isto... não há como não estar preocupado. 

Em muitas questões, o vértice essencial não é se se é de esquerda ou de direita, mas sim do partido do bom senso. Quem acena, hoje, com ideais que foram combatidos ao longo de décadas por homens e mulheres de todos os cantos do planeta, é porque para além de ter esquecido, algures foi esquecido. Ninguém pode, em sua boa mente e vivência, agarrar-se a um racismo puro, a uma pequenez de espírito contrária à essência humana. É básico demais para uma sociedade que tem evoluído ao longo de séculos e séculos. 

Há valores que ao nascerem, ao serem nutridos e aceites, nunca devem morrer. 

A decência é um deles. 

Não deixemos que o barulho nos faça esquecer isso, não permitamos que a polarização que trouxe a Internet às nossas vidas nos mate as vistas mais largas, com maior significado.

A emoção que Obama transmite, mais visível na parte final do discurso, é a de um Presidente que conhece as suas falhas mas que sabe que o perigo e incompetência que Trump representa para os EUA e o Ocidente é assinalavelmente maior que qualquer erro que possa ter cometido. É de um homem zangado mas, também, assustado. 

A mentira, o negacionismo e a divisão nunca foram remédio para nada, ao contrário deste discurso de Obama. 

Sempre foi hora de andar para a frente, mas agora mais do que nunca. 

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