Festival Iminente, ou um regresso
Pareceu tão surreal quanto natural.
O regresso de uma vida (quase) normal, agora que foi atingido o patamar de 85% de vacinados, é uma notícia maravilhosa, um sucesso gigantesco e uma felicidade indescritível.
Ver pessoas juntas, sem máscara, pode ser complicado ao início mas rapidamente percebemos que nada nos é mais natural que ter uma cerveja na mão e dançar ao som de boa música. Não fomos feitos para viver como temos vivido nos últimos tempos. Todos sabemos por que o fizemos e agora também todos sabemos que teremos que voltar ao que a nossa vida era, não esquecendo nada do que foi aprendido nestes dois anos e nunca esquecendo quem sofreu terrivelmente com esta pandemia e as suas mil consequências.
Algumas pessoas usaram a sua máscara e, pelo que vi, ninguém as confrontou por isso. Não tinham por que fazê-lo. A liberdade de cada um é isso mesmo, a sua liberdade. Guerrinhas culturais à americana são coisa que pouca gente terá paciência por cá, espero.
Não creio ter sido o único, no meio daquela multidão, a sentir um orgulho enorme pelo que fizemos nos últimos meses como país e sociedade.
O festival Iminente é um acontecimento raro no panorama nacional, o que a trupe de Branko e companhia criaram ali é um enorme hino à música, à cultura e à arte, não apenas portuguesas mas de todos esses recantos do mundo que se encontram em Lisboa, nessa nova Lisboa. Não destroem a cidade e os seus elementos, dão-lhes uma vida que já não tinham, deram um palco enorme ao movimento underground, tiraram-no da obscuridade e tornaram-no cool. E é nesse underground que encontramos frequentemente o palpitar de uma cidade, das suas gentes e múltiplas culturas, é onde se mesclam as pessoas nas suas mil e uma características.
Num mundo que vê crescer divisões e sentimentos retrógrados de medo e ódio, este festival é um grito de afirmação. Não estamos nem estaremos nunca dispostos a perder esta multiculturalidade de uma cidade que sempre esteve virada para o mundo e que sempre recebeu as gentes de qualquer dos seus cantos.
Não queremos só ouvir o que sempre ouvimos nem queremos o que sempre houve. Queremos novo, novos sons, novas imagens, novos cheiros e comidas, queremos sentir o mundo a ganhar forma em todas as ruas.
Ontem, naquele regresso a um normal, a única certeza com que saí de lá é que ser português é tanta coisa e todas elas fantásticas, ser português é ser o país mais vacinado do mundo - porque coisas sérias são coisas sérias - mas é também a cerveja que se bebe ao som de música que junta Portugal à África que há umas décadas chamava de sua.
Portugal é do Mundo, nunca nos vão fazer acreditar do contrário. O festival Iminente é a prova que não deixaremos que nos fechem e tirem o mundo de Lisboa, de Portugal.
Parabéns a todos nós e, tal como disse Branko na despedida da noite, que comece o resto das nossas vidas.