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Vilipêndio

Vilipêndio

16 de Julho, 2019

"Quem sou eu?"

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O Facebook foi multado em cinco mil milhões de euros. Parece muito, não é? Depende do ponto de vista. A ver pelos resultados da bolsa do Facebook, a coima que lhes foi atribuída é tão curta e, ao mesmo tempo envia para debaixo do tapete tanta coisa, que os investidores olharam para isto tudo como uma bela forma de valorizar a empresa. É fantástico, mas ao mesmo tempo assustador. Cinco mil milhões de euros é muito dinheiro (é, inclusivé, a maior multa de sempre da Federal Trade Commission) mas é o preço que a empresa tem de pagar para continuar a fazer cinco mil milhões a cada mês (sim, é esse o valor mensal de receitas da marca de Zuckerberg). As outras questões, secundárias, acerca da privacidade, do acesso à informação dos utilizadores, ficam todas para segundo plano. A multa está paga. O assunto está resolvido. Os investidores podem continuar a fazer os seus milhões.

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Então e a Google, que ouve conversas privadas? Escândalo? Nem por isso. Só uma notícia mais. Já todos nos habituámos a esta nova realidade. Os nossos dados são cada vez menos nossos e mais do mundo. Pertencem a todos. São um bem que, sem darmos por isso, valem milhões. Nós nunca vemos um euro que seja deles, mas dizem-nos que assim temos anúncios mais personalizados, uma experiência mais pessoal quando estamos na Internet. Contudo, agora que a Internet deixou de ser uma coisa nova, agora que a discussão acerca dos nossos dados privados já leva uns anos de existência, começa a ser possível enxergar melhor o que se passa no mundo da tecnologia e, mais especificamente nesta fantasia em que o Google e a Facebook enfiaram milhões de pessoas. E o que se passa não é a experiência do utilizador na Internet ou, sequer, a publicidade e os rios de dinheiro que dela advêm. O que se passa é que este grupo específico de empresas percebeu, por terem sido elas as pioneiras na área, que mais valioso que os nossos dados, mais importante que a publicidade e, inclusivé, mais vital que o dinheiro é a capacidade de ter armazenada a informação pessoal e os diversos hábitos de uma porção muito importante da humanidade. É o novo ouro, e eles foram os primeiros a percebê-lo.

A Google e o Facebook já não precisam de dinheiro nem de poder. Já estão noutro patamar. Eles querem, literalmente, as nossas vidas.