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Vilipêndio

Vilipêndio

04 de Novembro, 2018

Assobia que estás a pagar

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O futebol, como já tive oportunidade dizer neste blog, ocupa o lugar dos sete ofícios. É tudo o que possamos imaginar ou querer. É o desporto-rei, afoga mágoas como vinho e excita almas como poucas coisas. Agora, o que têm escoltas policiais de indíviduos até um estádio de futebol a ver com isto, e o que tem isso de tão interessante para que seja motivo de directo televisivo? Não sei, é uma pergunta que deixo no ar.

As televisões portuguesas estão a tornar-se especialistas em fazer soar agressivo tudo o que rodeia o futebol, é uma empreitada e pêras. Estão a ter resultados excelentes nisso, há que dizê-lo. Por achar que uma coisa depende da outra, ou nasceu porque a outra quis, chego ao motivo para este texto: o comportamento do adepto português no estádio.

 

Para além de estarmos a destruir a olhos vistos o futebol, fazendo dele tudo o que não é, enchendo-o de lixeira acessória e mexericos ridículos, o nosso comportamento num estádio de futebol é digno dos livros de história. 

Já todos vimos grandes clubes no mundo serem assobiados, faz parte do desporto assim como a crítica e o desapontamento dos adeptos. Contudo, em Portugal o fenómeno é diferente. O adepto vai para o estádio não para apreciar um espectáculo mas para ver o que estes gajos fazem. Tudo é bonito e corre bem, até a equipa entrar numa má fase. Aí, na fase em que os fundamentos do desporto diriam que o adepto entrava para galvanizar, o que acontece é que chega a ser um verdadeiro adversário da equipa que "apoia". Essa equipa, em má forma e com a moral em baixo, chega ao seu estádio e aos cinco minutos com dois passes falhados tem um estádio a cair-lhe em cima. Anda uma pessoa a pagar para isto?, ouve-se. Deixem-me dizer que não me parece fazer sentido nenhum esta abordagem. É como comprar um bilhete para o teatro e a meio do primeiro acto estar a mandar tomates e a apupar o elenco. 

Não há nenhum jogador que vá jogar melhor com o próprio estádio a assobiar a equipa, o nervosismo que isso impõe a um atleta deve ser respeitável, portanto o que o adepto na realidade consegue fazer é diminuir as hipóteses da sua equipa ganhar, feito pelo qual ele pagou uns euros para ver atingido. Não pode mesmo ser uma estratégia inteligente esta. 

O futebol devia ser puro entretenimento mas, em Portugal, até o entretenimento é uma dor de cabeça, um fado pelo qual só resta reclamar.

 

 

P.S. - Depois de ler este excelente artigo do Maisfutebol, que assenta noutra interessante questão relativa ao futebol, a volatilidade do posto de treinador e a desculpabilização de todos os outros elementos, lembrei-me que Peseiro já foi chutado para canto e Rui Vitória para lá caminha. O assobio não pode ser inocente nisto, meus amigos.