Um ano depois
Faz agora um ano que a Rússia de Vladimir Putin decidiu invadir um país na Europa e levar-nos a reviver traumas antigos, que pensávamos enterrados, pelo menos no nosso microcosmos europeu. Este é um aniversário que ninguém queria que existisse.
Há um ano que tentamos compreender como é que, em 2023, o homem ainda resolve discórdias explodindo com prédios, matando civis, invadindo países, cometendo as maiores atrocidades.
Este é um conflito complexo, como todos são, mas é um conflito em que desde o inicio há claramente um agressor e um agredido. A Rússia quer destruir um país, apoderar-se dele e fazê-lo seu. Invadiu a Ucrânia com o propósito de acabar com o país, com a história do seu povo e da sua identidade.
Esta invasão é o ponto principal de uma larga estratégia russa de minar o Ocidente por dentro, com marionetas políticas como Trump e o financiamento de partidos e políticos anti-democráticos, estacionando iates em todas as capitais da Europa, com campanhas brutais de desinformação e propaganda, ou com vistos gold e mecanismos afins, e a estratégia tem dado os seus resultados. A guerra entre a Rússia e o Ocidente porventura nunca acabou, a Guerra continua a ser Fria há décadas e décadas. E hoje, os russos parecem ter a benevolência de países como a China ou o Irão. A escalada no conflito é evidente e que o digam os milhões de ucranianos que a sentem na pele.
O futuro de todos nós joga-se na Ucrânia, como todos percebemos desde o dia 1 desta invasão.
Putin revelou-se o ditador que todos antecipávamos que era, revelou-se o criminoso que todos sabíamos que ele era. Há muitos e largos anos. Andámos em negação muito tempo e a factura paga-a agora o povo ucraniano, por não termos sabido actuar perante um homem cada vez mais alienado da realidade, autoritário e, acima de tudo, frágil e ansioso por deixar marca nos livros de História.
Neste ano que passou, viu-se também a forma polarizada com que encaramos as situações limite. E esta guerra é um situação limite. Quem aponta, com algum grau de seriedade, o papel não tão inocente dos americanos na última década no xadrez político no leste europeu, rapidamente é atacado como putinista. Mas a história nunca foi assim tão simples. Querermos fazer desta guerra uma coisa simples, mesmo que com o honroso objectivo de defender o povo ucraniano, pode levar ao branqueamento de acções que devem ser criticadas.
Todavia, não é difícil compreender quem se irrita com estas posições, dada a brutalidade da invasão russa. Será pertinente apontarmos o dedo à postura nem sempre defensiva dos EUA e da NATO, mas num futuro que não o momento actual. O momento actual é de defesa incondicional da Ucrânia, do seu povo e território. E enquanto a Ucrânia estiver a ser invadida, enquanto forem mortos centenas de civis ucranianos todas as semanas, apenas pode existir um vilão nesta história.
Vladimir Putin é um criminoso de guerra e terá de responder por isso. Tem de sair de onde está, pelo bem da Ucrânia, da Europa, da humanidade.
Esta é a guerra dele e do seu regime. É a guerra que ditará parte do futuro da nossa Europa, das nossas democracias.
Um ano depois, a única coisa que vimos foi gente morta, gente desalojada, gente desesperada, gente arrastada para a guerra, pessoas que se vêem a ficar sem país, sem família, sem tecto, sem nada.
A guerra tem de acabar.
O único desejo que podemos ter é que, quando isso finalmente acontecer, a Ucrânia, mesmo que de rastos, seja uma realidade e que Putin esteja onde merece: a apodrecer na prisão.