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Vilipêndio

Vilipêndio

09 de Janeiro, 2023

Sabíamos que ia acontecer

Qualquer pessoa que tenha acompanhado os últimos meses da política brasileira nao poderá ter ficado surpreendida com os acontecimentos ontem em Brasília. Desde o dia 6 de Janeiro de 2021, quando o Capitólio em Washington foi invadido por um mar de apoiantes enraivecidos de Trump, que percebemos que o a extrema-direita veio para ficar e que não se ficará por meias palavras e ameaças vãs.

Tudo o que aconteceu em Brasília é uma imagem-espelho do que aconteceu nos EUA, porque por trás de ambos os eventos estão os mesmos homens, a mesma estratégia e a mesma manipulação de massas. Esta nova direita anti-democrática, fascista nos seus costumes e argumentários, não respeita a base das democracias liberais, não reconhece a legitimidade das urnas e do voto. 

Na base de todos estes movimentos violentos e anti-democráticos está uma campanha magistral de desinformação que todos nós sabemos que existe há anos, mas que ninguém parece ser capaz de interromper ou resolver. Nem governos, nem autoridades, nem os próprios cidadãos. Várias páginas na Internet fazem-nos o favor de mostrar o que se fala em centenas de grupos privados no Telegram (tal como o faziam também em 2021 nos EUA) e o que nos mostram é uma imensidão de gente a viver totalmente afastada da realidade. Pessoas que acham que o Brasil é neste momento uma ditadura comunista, pessoas que acham que Lula vai obrigar crianças a casar com adultos, pessoas que acham que daqui a uns anos vai ser ilegal ser heterossexual. É tudo tão comicamente rídiculo mas, ao mesmo tempo, extremamente perigoso. 

Sempre houve teorias da conspiração e sempre houve pessoas alheadas da realidade. Contudo, o que mudou em anos recentes foi a instrumentalização destas pessoas por parte de uma falange de políticos vindos todos da mesma área política e todos com o mesmo ideal: acabar com a democracia tal como a conhecemos. Seja na forma bélica como conduzem debates políticos, ou no ataque cerrado ao "outro campo político", tudo nestes movimentos demonstra uma enorme destruição dos valores de uma democracia evoluída. 

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A democracia está verdadeiramente em perigo e não é so do outro lado do Globo. Basta ver quem, por estas bandas, sempre apoiou aberrações políticas como Trump ou Bolsonaro, dois violentos homens com uma falange de apoio cada vez mais sedenta de vingança. Por cá, o nosso mini-Trump, espera o seu momento. Cabe-nos a nós estar atentos e lutar contra a degradação de um país e do que ele mais importante tem: o seu tecido social. A divisão que estes políticos querem criar na nossa sociedade (para seu único proveito, obviamente) é das maiores ameaças ao nosso futuro conjunto. A política nunca serviu para criar dois campos de batalha, mas sim vários campos de discussão. Não é isso que Ventura, Bolsonaro, Trump, Orban, Putin e companhia querem.

É preciso que toda a sociedade faça o seu papel: a normalização do discurso e das atitudes destes políticos não pode ser a norma. O exemplo que Ricardo Araújo Pereira deu ao não convidar Ventura para o seu programa é paradigmático e exemplar. Já a nós, meros cidadãos anónimos, cabe-nos estar atentos à radicalização de amigos e familiares. Precisamos de saber ouvir e saber identificar sinais de alarme. Recentemente, num jantar de amigos, ouvi uma amiga dizer que o "covid foi inventado para nos manietar" e que "a ciência é uma farsa" e são esses os sinais para os quais precisamos de estar atentos. Quem entra por esse vórtex, rapidamente fica à mercê de governantes e movimentos políticos que os querem usar para seu proveito pessoal, levando tudo à frente. Seja a verdade, a democracia ou todo um país.