A Europa está confusa
Com os resultados das eleições deste domingo em Itália já conhecidos, torna-se agora uma certeza que o passado está de volta.
Fica comprovado, com a vitória da extrema-direita em mais um país, que a memória dos horrores da II Guerra está esquecida neste velho continente e que a História não é mais do que uma triste repetição de ciclos.
Não há outra forma de ver a nova ascensão de ideais que dividiram todo um continente há quase cem anos e que levaram à morte de milhões de inocentes, ao quase extermínio de um povo e à destruição da democracia e da liberdade em boa parte do continente.
Num espaço de dias, vimos a chegada ao poder na Suécia de um partido criado por neo-nazis e a tomada do poder em Itália por uma coligação de extrema direita. Na Hungria, a ditadura de Orban ganha preponderância a cada liberdade retirada e é uma cada vez maior ameaça à unidade europeia. Em Inglaterra, Truss promete continuar as políticas divisivas e destrutivas que levaram a um Brexit impregnado de ideais da direita radical. O fascismo hoje não será o que era na década de 30 do século passado mas a política baseada na divisão, no racismo, no populismo está de volta. É uma certeza, agora.
Com todos estes desenvolvimentos políticos, a Europa parece definitivamente confusa. Não sabe bem o que quer e para onde vai.
Entregar o poder a partidos que reúnem chalupas do negacionismo e fanáticos da "liberdade individual" mas que querem obrigar mulheres violadas a ter filhos porque o aborto é uma aberração. Partidos que se vendem como anti-sistema mas que se mesclam nele como todos e que nos usam como marionetas de divertimento. Partidos que são totalmente contra a guerra de Putin mas que continuam a estar no seu bolso, económico e ideológico. Partidos que lutam por "Deus, Pátria e Família" da forma mais hipócrita possível, sabendo perfeitamente que é o slogan dos piores movimentos políticos que o século XX nos deu. Partidos que, no fundo, são uma autêntica mentira, uma fachada.
Esta enorme confusão na Europa prometer fazer mergulhar-nos a todos, de novo, numa era de escuridão.
A Europa terá de decidir, se quiser ser una, se quer o aborto como direito universal, se quer a integração e o acolhimento de refugiados, se quer ser solidária ou não. Se não o fizer, é provável que daqui a uns tempos não haja uma União.
A guerra na Ucrânia trouxe os "valores europeus" para a ordem do dia, mas será que sabemos mesmo realmente que valores são estes? Estaremos preparados para assumir que esses valores não são aquilo que pensámos nas últimas décadas?
Basta ver o rumo político de muitos dos principais países europeus para entender que a igualdade, a fraternidade e a aceitação não são prioritárias para um continente que se quer fechar, novamente, sobre si mesmo.
Anos e anos de normalização destes partidos e destes líderes, por parte da sociedade, dos media e de restantes protagonistas, trouxeram-nos aqui, a esta triste realidade.
Aproximam-se tempos perigosos.