Levem-me para o Norte
Não tinha muitos dias livres, tinha os dias suficientes para sair de casa e ir para algum lado, não muito longe, não muito complexo.
Decidimos ir ao Norte e ir um dia ao Paredes de Coura, um dos festivais que não conhecia. Sem carro, apenas de comboio e autocarro.
Começou-se em Braga, subiu-se o Bom Jesus a custo de muita perna e de muito músculo até então esquecido, fez-se aquele Escadório com a força de quem quer chegar lá acima seja por onde for.
E lá em cima é bonito, é uma vista sem dono, são caminhos por dentro de mais caminhos. Um desses caminhos acaba no Santuário do Sameiro.
Esta coisa enorme, linda e imponente.
E mais um Escadório subido depois, chega-se ao topo de um sítio sem palavras. Vê-se tanto Minho lá de cima que uma pessoa só pode ficar de boca aberta.
Braga é uma cidade com tudo o que se precisa. Sabe ser uma grande cidade sem ser uma metrópole descerebrada e caótica. Tem gente, muita, e boa gente. Tem juventude, animação. Braga é uma cidade a jogar um campeonato muito próprio e que assim continue.
Seguiu-se para o Paredes de Coura para passar uma noite no Taboão a ouvir boa música. Há muito que queria conhecer o paraíso de Coura, o evento que há anos junta o mais diverso tipo de pessoas, idades, vivências e experiências num local absolutamente único.
Tenda rapidamente montada, amigos novos feitos à velocidade do vento, um encontro enorme de gente em paz, calma, e com todo o tempo do mundo para saborear as pequenas coisas: as pequenas e grandes conversas, o aconchego do estômago com que comida for, o aconchego da alma pelo encontro com a natureza, o sol quente e o rio que refresca qualquer calor preso ao corpo.
Saindo do campismo, e do paraíso, chega-se ao recinto propriamente dito. É um local imerso de árvores, luzes e gente, muita gente. Muita gente animada e pronta a ser feliz. E tão fácil que é ser feliz ali, com aquela música e aquele ambiente.
Depois de uma noite com mais frio do que expectável - menino de Lisboa sofre sempre este problema - e uma tenda que apenas protegia de se morrer ao frio, a saída de Paredes fez-se cedo. Rumo a Viana do Castelo e à fantástica Romaria da Senhora da Agonia.
Nunca tinha ido a Viana, era a última capital de distrito em Portugal que me faltava, e não haveria melhores dias para isso. A Romaria é um fenómeno indescritível, de uma dimensão que eu não sonhava, que junta tanta gente, tanto sotaque, tanta música e animação.
Viana parece não dormir nestes dias, porque dormir é tempo perdido. São dias de intensa organização e festarola, dias de receber bem quem vem de todos os lados de Portugal, Espanha, França e afins.
O Norte português é especial, não é nada difícil chegarmos a essa conclusão estando lá. As pessoas são feitas de material distinto, vivem uma vida que, à primeira vista, parece ser igual a todas as nossas, mas não são. No Norte, as pessoas são mais pessoas.
Na hora da despedida, só queria que me me deixassem lá, algures. No Norte sou feliz.