Cápsulas, para que vos quero
Consigo lembrar-me com algum detalhe da arte do meu pai em tirar cafés, quando eu era menino de ter poucos anos. O processo repetia-se várias vezes ao dia: o manípulo que fazia o barulho do costume em cima do balcão, as borras que iam para o lixo, o moínho que fazia, também ele, um o senhor barulho e o belo café que depois se bebia.
Beber café nunca foi muito diferente disto. E se há coisa que sempre se consumiu e muito é o café.
Contudo, vivemos num mundo em constante evolução, não é coisa de agora. As tecnologias mudam-nos a vida sem nós darmos, muitas vezes, por isso. Hábitos que mudam, rotinas que se alteram porque algo foi inventado, melhorado, automatizado.
A meu ver, nem todas estas inovações são assim tão boas. Nem todas estas melhorias são, de facto, melhorias.
As cápsulas de café, para cada café, são coisa recente mas que se tornou absolutamente dominante nas nossas casas e em muitos outros locais. Como sempre nestas transacções do mercado e da inovação, estamos a pagar mais caro por mais rapidez, mais praticabilidade. Ou seja, tornam-nos mais preguiçosos, a mal da nossa carteira e do ambiente. Não tenho a certeza que todos tenham acordado estes termos de forma totalmente consciente. Foi criado todo um novo mercado para vender café, seja o Clooney e a sua Nespresso, sejam as outras imensas marcas que, subitamente, passaram a comercializar um sem-fim de cápsulas de café.
Que o mercado está muito pouco preocupado com o ambiente e a nossa pegada ecológica, já todos temos presentes. Que o mercado, e a incessante procura pelo lucro, irá destruir o nosso planeta, é mais do que evidente. Contudo, não temos de ser espectadores silenciosos desta mesma destruição.
É por isso que vou comprar uma máquina de café, uma máquina de café a sério, que me fará pagar novamente uns cêntimos por café sem precisar de carregar com caixas e caixas de cápsulas. Sem precisar de armazenar cada café que bebo numa cápsula de plástico, como se o meu dia fosse tão curto e eu tão importante que assim tenha de ser.
Sei bem que existem cápsulas reutilizáveis mas penso que seja correcto dizer que a grande maioria não as utiliza.
É algo ingénuo falarmos sobre tudo o que se passou na COP26 e esperar que tudo mude, sem começarmos, nós mesmos, a repensar todas as pequenas coisas do nosso dia a dia que não fazem assim tanto sentido.
As cápsulas de café são, a meu ver, um dos exemplos mais absurdos de quão gratuitamente nós encaramos o planeta onde vivemos e de quão egoístas, preguiçosos e alheados nos vamos tornando nesse processo.