Vacina e vacinólogos
O debate está aberto. As opiniões vêm de todos os lados. Subitamente, somos todos gente entendida em vacinas.
Mesmo sem fazer por isso, tenho-me visto muitas vezes em situações de debater ao pormenor uma vacina que, perdoem-me, eu não sei assim tanto. Gostava, é verdade. Mas não sei. Tenho andado com outras coisas para fazer e não me consegui tornar, nestes meses, num renomeado especialista da área da vacinação e da microbiologia.
Mas muita gente fê-lo, aparentemente.
Gostava de ver de todos os que duvidam da vacina, que questionam os seus compostos, efeitos secundários, tempo de estudo, fazer o mesmo com o hambúrguer do Burger King e com tudo o que empanturram as suas grandes barrigas. Gostava de ver essas pessoas dizer-me, num flash de sapiência e iluminismo que todas elas emanam, quais os compostos daqueles gelados que gostam imenso do Pingo Doce. Ou de todas as bolachas e biscoitos, carnes, peixes e anfíbios que alguma vez comeram na vida. Ou quiçá do Viagra, do Brufen e da Aspirina? Será que me conseguiriam dizer assim tão assertivamente?
Queria que me dissessem isso tudo, assim, com a rapidez e espontaneidade que utilizam para duvidar do trabalho e idoneidade de centenas - senão milhares - de cientistas, homens e mulheres dos mais variados pontos do mundo, mentes brilhantes, mentes que, de facto, fazem algo de útil para as nossas sociedades sem ser mandar vir com tudo e refilar vaziamente em caixas de comentários na Internet.
É estúpido pensar que existe um sem fim de efeitos secundários quando a doença que se tenta combater apresenta muitos mais efeitos secundários desconhecidos, é estúpido pensar que os cientistas não têm noção dos efeitos secundários, que não existem efeitos secundários na grande maioria das medicações e vacinas, e é estúpido demais pensar que existe uma cabala de gente que anda a brincar às vacinas e que no fundo querem é lixar-nos. Não conseguir entender que a vacina é o melhor meio que conseguimos (não todos, uma percentagem de gente muito útil) desenvolver para que parem de morrer pessoas de forma exponencial é demonstrar que, em muitas coisas, nos tornámos seres absolutamente auto-centrados e egoístas.
A ciência deixou há muito tempo de ser cool, nenhum cientista é personalidade instagramável, o cool passou a ser duvidar da ciência, mostrar superioridade e inteligência acima da dos demais, inclusivé daqueles cujo QI é tão maior que nem o vislumbram. E a meu ver, podemos duvidar de tudo menos da ciência. Podemos questionar tudo menos a capacidade que a ciência tem de se sobrepôr a todas as questiúnculas que nos enchem o palco das vidas.
É perigoso o que estão a fazer à ciência.
Ganhem juízo e vacinem-se.