Parar para não pensar
É costume dizer-se, em momentos pontuais da nossa vida, que precisamos de parar para pensar. Pois bem, há quem sofra de momento inverso a esse. Há quem precise de parar para não pensar.
Sou um desses casos.
Por vezes, é preciso parar a engrenagem que dá origem ao pensamento. É preciso deixar de querer, de perguntar, de ansiar e ouvir apenas. Ouvir tudo mas não fazer caso de nada. Ouvir tudo como se a distância entre os dois ouvidos fosse um auto-estrada sem portagens, um caminho cujo percurso não encontra qualquer resistência. Ouvir tudo e apenas isso.
A nossa mente acelera à velocidade da nossa vida, acelera-se com o passar das vivências, das memórias, de todos os eventos, encontros e desencontros. Tudo o que respiramos, que vimos, que ouvimos e tocamos, tudo o que faz estremecer uma qualquer célula cá dentro, tudo isso acelera a mente. Se não for bem treinada, uma mente atenta não se cala.
E isso pode ser problemático. Podem ler-se livros a mais, se de todos os livros se fizer uma experiência vivida na pele e na alma, pode viver-se demais, se de tudo o que nos acontecer fizermos um enredo de questões e contra-questões. Pode pensar-se demais. E isso aleija. Dizem que estraga a pele, também.
Preciso de parar, e começar a respirar e sentir. Viver, apenas, pode ser suficiente.
Sentar em frente ao lago e, tal como o Reis, dedicar-me apenas a ver o rio passar. É esse o objectivo, agora. Não sempre, mas por vezes. Não todos os dias, algumas horas de vez em quando.
Parar para não pensar é passo inegável para uma vida saudável neste mundo que se criou à nossa frente, cheio de afazeres e experiências a viver, um mundo que parece que vive sempre dois passos à frente do seu tempo.
Desacelerar é, agora, o mote.