A valia da informação
Preciso de assumir aqui uma coisa: há algo que eu temo mais do que o coronavírus. Não é a morte, porque essa já nos dão à nascença. O que eu mais temo é a estupidez humana.
Não se enganem, continuo a respeitar muito o vírus, mesmo que não o veja. Continuo a usar máscara quando devo e continuo a considerá-lo uma das maiores ameaças de saúde pública em muito tempo.
Mas quando me debruço sobre as notícias e me encaro com um Trump e um Bolsonaro tudo fica estranho. O mundo já não é bem a mesma coisa a partir dali. Agora que Kim Jong Un está sabe-se lá onde, diria que há algo muito mais temível nos dois senhores das Américas quando comparados com o ditador norte-coreano: foram eleitos. Com votos, de pessoas. E nada poderia ser mais assustador do que isso.
Já muito se sabe sobre a origem da popularidade de um e de outro presidente, as tão famigeradas fake news que eles afirmam combater são, de facto - e num toque de génio -, a sua principal arma. As munições são todas as partilhas que conseguem obter em comunidades como o Whatsapp e o Facebook. A partir daí, a guerra começou a ser ganha.
Estes são dois exemplos de um muito maior problema: a informação. E como ela nos chega. E é aí que entra, com péssimos resultados, a nossa inteligência. Distinguir o sério do não-sério passou a ser dever cívico. Distinguir a ciência do conspirativo passou a ser imperioso.
Mas em tempos de Covid-19 tudo se altera. Tanto Trump como Bolsonaro passam por momentos bem complicados e ambos estão a dar provas bem assertivas da sua aptidão para o cargo e nenhum deles ultrapassa a de um pequenote de 12 anos. Contudo, tenho sérias dúvidas em relação à sua diminuição nas tendências de voto. Tenho sérias dúvidas que eles não conseguirão passar a sua mensagem, a sua versão da história a um eleitorado muito pouco dado a isso da inteligência. E eles vivem connosco. Não é só nos EUA ou no Brasil, é em Portugal também. É em todo o lado, vá. Há gente burra em todo o lado, toda nós sabemos disto. E, meus amigos, eu não queria nada passar por isso cá.
É preciso cuidado com isso. Vivemos num mundo em que há grupos de pessoas que apoiam que a Terra é plana e que as vacinas causam todo o tipo de doenças. Paremos um bocadinho para pensar nisso. É grave, senão definidor.
Por tudo isto, a informação é vital. É perigosa. Pode definir eras. Resta-nos usar a inteligência para evitar males maiores. As ameaças desta pandemia são várias - sociais, económicas, políticas - mas, acima de tudo, podem ser, tal como o vírus, invisíveis.
PS - Deixo aqui o meu agradecimento ao jornal Público que ofereceu aos profissionais de saúde a subscrição do jornal. Para além de ter sido o jornal que disponibilizou toda a informação relativa à sua pandemia desde cedo (e por não ter alinhado nessa coisa estranha do Nonio), tem-se pautado por um saber-estar que, nos tempos que correm, passa muito por fazer jornalismo com calma. E o Público tem-no feito e bem. Mandei e-mail para o jornal como agradecimento, sem contar que recebesse qualquer retribuição. Mas recebi e da pessoa do seu Director. Por isto, este texto é dedicado ao Público e a todos os que lá trabalham. São um pilar crucial neste nosso estranho mundo.