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Vilipêndio

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11 de Novembro, 2019

Web Summit, o mito

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Como já tive oportunidade de dizer no reputadíssimo espaço que é este blog, sou utilizador dos transportes públicos de Lisboa para ir e vir do trabalho. Para além de ser a desculpa perfeita para iniciar uma terapia dessas todas modernas que agora existem, tem servido para ver o país no seu mais puro e vislumbrar muitas coisas que parecem ser esquecidas nos intermináveis telejornais ou nos que pela Internet e pela folha impressa nos chegam aos olhos. 

A semana da Web Summit foi uma em que os transportes que eram maus se tornaram péssimos, em que os transportes que iam cheios passaram a ir lotados, em que uma cidade que tem uma mobilidade péssima passou a ter, durante largos períodos, uma mobilidade quase impossível. 

Lisboa cresceu para a Web Summit. Mas só cresceu a parte que se vê, na na sua fachada principal, bem de frente. É como o homem que mete desodorizante em vez de se pôr debaixo de água, ou a mulher que se maquilha em demasia para esconder uma nítida feieza. É assim Lisboa. É assim, quiçá, Portugal. 

O jornal Sol da semana passada mostra-nos um artigo onde, entre outras coisas, refere que os grandes jornais do mundo ignoraram por completo este evento, que os ganhos para a cidade e economia nacional são significativamente mais baixos que aqueles que um (repito, um) estudo aponta, que os custos para o orçamento público tornaram-se bastante importantes e deixa-nos ainda pormenores deliciosos como a venda de camisolas iguais à do seu iluminado Messias por 850 euros que rapidamente esgotaram, camisolas essas que são produzidas por uma empresa da mulher do mesmo. Portanto, digamos que não é nada difícil entendermos quem são os que lucram realmente com esta Web Summit. 

Apesar de tudo isto, ficará connosco até 2028 (!), e pela amostra que já tivemos terá reunidas todas as condições para se tornar o nosso novo Euro 2004. Tudo às nossas custas, não fosse este o país em que a utilização de dinheiros públicos não se justifica, faz-se com parco respeito, segundo vontades obscuras e interesses que nos escapam. 

Como espaço de intercâmbio empresarial e de troca de ideias no que a tecnologias de futuro diz respeito, a Web Summit há-de ser sem dúvida um espaço interessante. Em tudo o resto, é um mito. Não interessa aos portugueses, a Portugal nem sequer a Lisboa. Muito menos a Lisboa. Interessa a um grupo importante e restrito de gente que, muito provavelmente, não irá de comboio ou metro até lá.