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Vilipêndio

Vilipêndio

07 de Outubro, 2019

A má notícia eleitoral

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O país foi a votos e, para além da mais do que óbvia vitória do PS, da anunciada saída de cena de Cristas, vislumbram-se algumas boas notícias. Aumentou a diversidade política parlamentar, nunca houve tantas vozes como agora haverá na Assembleia da República. O país bicéfalo, eternamente colado ora ao PS ou ao PSD, parece estar gradualmente a acabar. A democracia dá a entender que está viva e isso é sempre de salientar. 

Contudo, o que mais me parece importante realçar - não fosse este um blog de apurada maledicência - é o recorde de abstenção. Não me parece que será tema de grandes debates televisivos, entre jornalistas, políticos ou comentadores. Os políticos bem que se propõem a motivar o voto de todos, mas assim que passam as eleições e os números da abstenção aumentam, isso deixa de ser assunto. Sabe-se lá porquê. 

Existe uma distância cada vez maior entre políticos e povo, um discurso político cada vez mais desconectado com a realidade de todos nós, mas existe também esta abismal despreocupação das pessoas com os rumos do país. Para além dos jovens, que mesmo sendo pertencentes à geração da informação, não consideram essencial o acto de votar, há ainda muito português que continua a viver o seu quintal, o quintal do vizinho, a trama da novela da noite e pouco mais. Tudo o que não são problemas a ver com o seu quintal ou o do lado não lhes parece que possam fazer grande coisa ou que a sua voz valha de alguma coisa. Temos também os vários casos de pessoas que até se predispõem a ir votar mas não têm como se deslocar para o local de voto (naquele Portugal interior, esquecido, onde a Uber nunca irá chegar), ou aqueles, que chegando lá, esbarram em filas enormes, confusão ou deparam-se com os seus nomes já riscados porque alguém confundiu uma Maria Luz com uma Maria da Luz.

São tudo factores que ajudam a explicar que metade da população não exerça um direito essencial nas nossas sociedades. Mas sejamos honestos: para muitas destas pessoas, votar é mais mais uma chatice do que um direito. 

 

O recorde de abstenção é mesmo a má notícia da noite. É o facto que, a meu ver, deveria suscitar maior discussão e preocupação. Em relação ao nosso estimado Parlamento ele irá, se tudo correr bem, continuar a ser o que era. Metade do tempo será fórum de discussão política e democrática, noutra metade uma máquina de lavar roupa suja. 

03 de Outubro, 2019

O erro de Bernardo

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Em Terras de Sua Majestade, a juntar à novela Brexit, temos agora a novela Bernardo Silva e o Conguito. 

Parece que o crime revelado desta vez por essa massa encefálica de brilhante perspicácia que são as redes sociais é o de racismo. A polémica está instalada, "as redes sociais pegaram fogo", o assunto "tornou-se viral e incendiou as redes". 

Ora a mim parece-me que estas ditas redes não tem mais nada que fazer na vida. E quem não tem nada que fazer na sua vida mete-se na dos outros. É apanágio tão antigo quanto a estupidez humana. 

À primeira parecia só mais uma descerebrada polémica das redes sociais, até que a Federação Inglesa tomou conta do ocorrido e alvitrou que "sim senhor, há aqui sinais da prática de racismo". E agora toca de investigar. Nesta fase de texto é importante relembrar que estamos a falar de uma brincadeira entre dois colegas de equipa numa rede social qualquer. Sim, vão investigar isso. Não se vá dar o caso de alguém se ter aleijado enquanto a publicação foi redigida e publicada. 

Bernardo Silva e só mais uma vítima do Políticamente Correcto instalado como uma doença nas nossas sociedades, gerada e proliferada nesse mundo que são as redes sociais, em que tudo é escalpelizado ao milímetro, em que se põe uma capa e se incorpora outra personalidade, tudo feito por pessoas que, porventura, nem por um momento o fazem às suas próprias vidas, não saem para a vida real que continua a acontecer no meio dessa realidade alternativa em que tudo é alguma coisa, tudo é criticável, tudo é certo ou errado

O erro de Bernardo foi ter achado, ao trocar aquela mensagem com uma pessoa da sua confiança, que quem anda e vive das redes sociais tem a mesma inteligência que ele. Ou que nós todos que temos uma vida para viver.