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Vilipêndio

Vilipêndio

30 de Dezembro, 2018

Se anos fossem pessoas

vilipêndio

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Se conseguíssemos fazer dos anos aquilo que eles não são - pessoas -, eu faria de 2018 um miúdo novo, dos seus vinte e poucos anos, naquela idade de se preocupar com tudo o que não faz andar o mundo, e que fala alto, grita sempre que abre a boca para sermos mais correctos. 2018 não é flor que se cheire, deixem-me já que vos diga. Parece menino bem comportado, mensageiro das boas notícias, mas isso apenas é para o olho desatento. E tantos que há, agora. Tantos que querem que haja, também. O rapaz sai à quinta, sexta e sábado, corre os sítios todos, faz trinta por uma linha, vive tudo o que há para viver. Mas a faculdade nem vê-la. Só cresce para os lados que não deve.

2018, em resumo, é um miudo parvo, embrenhado no seu mundo virtual, com um emprego de circunstância, cujos pais lhe pagam o amor e lhe criam uma realidade alternativa como compensação pela falta de tempo e pela falta de paciência.

 

Se quiséssemos entrevistar o ano de 2018 seria qualquer coisa deste género:

- Olá, 2018. 

- FECHADO POR MOTIVO DE GREVE.

 

Até para o ano.

05 de Dezembro, 2018

De Tomar ao Porto

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Tive uma semana de férias para gozar com a Maria, que na verdade não é Maria mas para facilitismos está cá a nossa língua, e decidimos, por magreza de ambas as contas bancárias e escassez de altos patrocínios, pôr de parte a possibilidade de fazer uma viagem para um qualquer paraíso idílico trendy. Não iríamos ver o coliseu de Roma nem a torre Eiffel. Nada disso.

Dito e feito, decidimos pôr-nos a palmilhar terreno pelo Centro e Norte de Portugal. Havia muito por ver por essas bandas, concluímos.

E. para além disso, quero conhecer bem este pequenino canto do mundo, antes de partir noutras buscas. Tal como temos a tendência para olhar muito para os outros e pouco para nós e os nossos actos, preferimos também conhecer o mundo em vez do nosso mundo. É normal, é humano.

Para além de umas boas fotos trouxe uma grande certeza: a de que falta ainda muito para ver.

 

  • Tomar e Coimbra

Começa-se em Tomar, cidade bem marcada  pela nossa história como povo. O Convento de Cristo é a primeira paragem. Inaugurado pelo pai da nação em 1160, alberga uma quantidade imensurável de História e histórias. A imponência da estrututra, antiga sede da Ordem de Cristo, aliada à sua colossal antiguidade fazem do monumento de Tomar uma autêntica relíquia do Centro do país.

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Convento de Tomar

 

Antes de sairmos de Tomar, dá-se uma cena bastante curiosa. Era hora de missa na igreja principal de Tomar, mas a sede de ver tudo o que é monumento fez com que eu fosse espreitar lá dentro. Ao entrar de mansinho, não desejando interromper qualquer reflexão pessoal ou revelação espiritual, apercebo-me que o que lá dentro se passava era uma missa em inglês para um grupo de turistas ingleses. Fiz-me entrar, na expectativa de aprecisar beleza histórica, mas não o consegui porque durante uns segundos não percebi o que raio se passava ali dentro. Depois, lá percebi e saí. Seja em que língua for, missa não se interrompe. 

Daí seguiu-se para Coimbra, a antiga capital e o berço do nosso saber, o olimpo do ensino. As ruas pequenas, os fados, as batas pretas, as capas pretas, tanto preto que não faz mais do que esconder as cores da festa que toda a cidade parece ser.  De Coimbra trago a rua cheia de estudantes às duas da manhã, o barulho da vida, e tudo isso porque é assim que se preparam devidamente os estudos e os futuros. Com muito barulho e sem ninguém pregar olho.

Trago também um rapaz brasileiro, o Felipe, que trabalha num restaurante no centro da cidade, que para além de ser o cara mais legal de Coimbra, tem uma história de vida, que contei aqui, que é absolutamente marcante. Pela simpatia fora do normal, pelo convívio espectacular que proporcionou, pela história inspiradora que carrega com ele, por tudo isso, trago-o comigo. 

Trago, por fim, esta foto do miradouro da Torre da Universidade.

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  • Viseu

Viseu propõe-se a ser também uma cidade com todas as letras. Ficámos mesmo no centro histórico, lado a lado com a fantástica Sé de Viseu. Tal como o convento de Tomar, é de uma antiguidade quase pré-histórica e a sua altura, os seus enormes pilares centrais e a complexidade do seu interior fazem dela certamente uma das mais bonitas no nosso país.

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Sé de Viseu

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Igreja da Misericórdia

 

  • Porto

Depois de Viseu, e aqui esquecem-se alguns pormenores que o resumo escrito não merece ou quiçá porque há coisas que são apenas vividas e já está, o rumo seguinte é o Porto. É sempre uma cidade diferente, por muitas vezes que se lá ponha o pé. E quando se vai com tempo e cabeça de viajante, braços cruzados nas costas, passo lento e mente aberta, o Porto é uma cidade e pêras. São várias cidades e várias pêras, melhor dito. Dá para tudo.

Tem o mesmo trânsito que Lisboa, o mesmo caos, a mesma vida, só não tem as pessoas de Lisboa. Isso faz uma diferença tremenda. A simpatia não é coisa que se possa ou deva quantificar, mas às vezes parece que se sente na pele. Não sei explicar mais que isto. As pessoas boas e más hão de ser as mesmas, só que no processo de viver a vida lá em cima, no Norte, a vida e a língua parecem menos desapegadas de convenções e regras sociais.

Depois o Porto tem o Palácio da Bolsa, que parece não acabar e que, a cada sala, se torna mais incrível.

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A possibilidade de ver um pôr-de-sol na ponte de São Luiz, a uma altura estonteante, é imperdível e momento de erguer o amigo smartphone e dar uso a todas as suas modalidades de fotografia.

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Ao passear por aquelas ruas, como quem deambuleia sem rumo, encontram-se maravilhas e sendo orgulhosíssimo funcionário de um hospital não pude deixar de assinalar o facto do Porto ter provavelmente o hospital mais bonito do mundo, o de Santo António. Deixa no ar a dúvida entre o que é mais fenomenal: se a imponente e anciã estrutura ou a modenidade da ciência que lá dentro se produz diariamente. 

A cidade invicta tem os maus Hábitos, onde dá a sensação que qualquer evento pode tomar lugar, o plano B, lugar onde se misturam duas discotecas numa, a rua das Galerias, um Bairro Alto mais contido, mais decente, mais de gente normal. Tudo é igual, mas tudo parece diferente. 

O Porto, porque é grande, tem também Gaia. E aí, para ver a cidade no seu ponto mais alto, e gastar algumas boas calorias, há que fazer a subida até ao Mosteiro da Serra do Pilar, um vigilante de pedra com várias séculos de História. O sabor que trouxe de Gaia é que parece uma Almada com sucesso. Sentado à beira do Douro, com a feira de domingo por detrás de mim e uma rua repleta de esplanadas cheias, só me pude lembrar do Tejo e daquilo que ele não é e não tem.

Sou capaz de comparar demasiado as coisas a Lisboa, já me disseram que isto pode ser coisa má. Não sei, devia ir ao médico ver isto. Entretanto, ficam mais umas fotos.

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Claustros do Mosteiro da Serra do Pilar. Um de dois claustros circulares existentes na Europa. O outro é em Nápoles.

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Igreja do Carmo

 

E assim se fizeram alguns quilómetros - bem pagos de gasolina e portagens - por essas auto-estradas. Quando nelas nos metemos rumo ao Norte do país dão a sensação de nos transportar para um mundo novo, ou então apenas ligeiramente diferente. As pessoas não parecem as mesmas. Falam-se, tocam-se, ajudam-se não sempre, mas de forma mais frequente, carregam sorrisos de formas gratuita, não sempre mas quase sempre. 

O Norte é diferente. As pessoas do Norte são diferentes. Lá para cima parece haver menos frete no viver. 

Pode até nem ser grande coisa, mas deve haver algo a aprender para aqueles lados.