A pouca razão de Dijsselbloem
Jeroen Dijsselbloem é a mais recente prova da arrogância e prepotência que inundam as instituições que operam esta máquina chamada Europa. O holandês com um nome que se assemelha a um espirro, falou e, tal como também acontece num espirro, o que fez foi barulho. Uma onda - um verdadeiro tsunami - de críticas lhe cairam em cima e, sejamos honestos, de forma normal e expectável. A junção de copos, mulheres e economia financeira só lhe podia trazer problemas, como se veio a verificar. O absurdo da comparação é espectacularmente infeliz e fez eco um pouco por todo o lado.
Mas, se virmos bem as coisas, estará assim tão errado este holandês de nome díficil?
Não é um facto que as politicas económicas de determinados países foram um total desastre durante anos, senão décadas? Não é já antiga a corrupção, de níveis pandémicos, nas principais instituições desses países?
Creio, e por isso tenho dormido bem, que as palavras do presidente do Eurogrupo não eram dirigidas à minha pessoa. Creio, também, que não o seriam a quem lê estas linhas. Portanto, se não me considero culpado pelo caos que se tornou o sistema político, financeiro, judicial do meu país, como me poderia sentir afectado pelas palavras de Dijsselbloem?
Por muito que queiramos ir contra o que disse o holandês, esbarramos sempre no ex-primeiro-ministro de Portugal envolvido num processo que, independentemente do veridicto, só poderá ser motivo de uma vergonha histórica, ou no banqueiro que, sendo caricatura de todo um sistema financeiro falhado, pôs o país aos seus pés. Esbarramos contra eles e vamos esbarrando num mar deles, em cada esquina, em cada página de jornal.
Mas, no final de contas, não precisamos que um holandês arrogante nos venha dizer o que devia ser uma verdade absoluta. O dinheiro não pode ser gasto, desviado ou perdido e depois perguntar-se onde está ele. Apreciamos bastante a preocupação do senhor Dijsselbloem, mas a irresponsabilidade, a despreocupação com o rigor, o sol que é quente e passa os 30 graus, a praia e o seu mar, tudo isso faz parte de sermos nós, os do Sul da Europa.
Deixai-nos ser assim, que só assim sabemos ser.