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Vilipêndio

Vilipêndio

27 de Outubro, 2016

Tive uma visão

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Ontem, depois de um jantar bem comido e bem regado, aproveitei para apreciar um pouco de televisão, meio sem querer, meio porque está sempre ligada.

Fiz mal. O canal, o mesmo há horas, passou a mostrar José Sócrates.

Em directo.

 A comentar um lançamento de um livro seu cujo título inclui a palavra "carisma". 

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Fiquei curioso, pensei que fosse uma gravação antiga.

Não era, era do mais em directo possível.

Surge-me uma necessidade de massajar os olhos e de verificar se o jantar tinha sido apenas regado com vinho. Mas apenas houve vinho, e eu estava a ver bem.

É fantántisco como conseguimos chegar até aqui.  

24 de Outubro, 2016

O nosso melhor brinquedo

vilipêndio

 

 

Tenho andado a pensar, nestes tempos últimos, para que me serve pensar e não me parece haver grande justificação.  

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É engraçado sermos o mero resultado de uma pequena massa cinzenta e gelatinosa que albergamos no nosso andar de cima. A casa dos génios, motivo e razão para tudo, o cérebro é responsável por todas as formas de ser, estar e fazer. Só nos perguntamos acerca dele porque ele sabe perfeitamente que existe e que não é de fácil entendimento.

É, sem dúvida, a melhor piada de todas. Porque é a única que podemos admitir. O que nós passamos e pensamos é só o resultado dessa piada, na forma de um sorriso ou na falta dele.

O cérebro dá-me vontade de rir porque não sei se é o que mais nos aproxima de ser um animal ou aquilo que nos torna precisamente mais que um.

 

Ilustração Brain is a joke  |

Christophe Marques |

2016 |

instagram.com/not__from | 

 

18 de Outubro, 2016

Para ti, mana.

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Hoje faz 30 anos que começaste a tua viagem à volta do Sol. Parece-me inconcebível ter existido mundo antes disso, ou que valesse a pena cá andar antes de seres e existires e, portanto, a história de tudo começa, para mim, quando decides ser mais um destes acasos.

Não creio que já tenha sido inventada a palavra, ou o conjunto delas, que consiga definir a relação de um irmão com uma irmã. Ou, neste caso, deste irmão com esta irmã. É tudo tão visceral, tão permanente, tão essencial que só existe explicação no que nos corre pelo corpo. O sangue que é o mesmo, o olhar que é só um e o coração que bate igual em dois corpos distintos. Não há sensação mais apaziguadora que saber que existe outro ser humano igual a nós, com as mesmas origens e saberes, num corpo diferente. 

Hoje, neste dia que é o teu, só quero pedir-te que andes sempre para a frente. Mesmo quando o mundo te manda no sentido contrário, anda sempre na direcção do Sol, daquele Sol que desde há 30 anos tem um brilho distinto, mais forte, mais especial. Segue o que o Duchamp disse e repete três vezes tudo aquilo que te diverte.

E peço-te, ainda, que agradeças o acaso da vida, porque é esse acaso que a faz valer a pena, mesmo quando nos parece ser só uma dolorosa aleatoriedade. 

Tu és, para mim, o melhor acaso de todos.  Sem ti sou só uma metade de nada.  

 

 

 

06 de Outubro, 2016

Guterres quis, Guterres conseguiu

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A diplomacia portuguesa está de parabéns. Um dos postos mais importantes no universo politico internacional pertencerá, a partir de agora, a um português. É tremendamente importante o cargo que foi confiado a António Guterres e este deve ser, acima de tudo, um motivo de orgulho para todos nós. Infelizmente, é mais um daqueles orgulhos que é rotineiro, expectável, óbvio. 

Vamos devagar: o mérito pertence ao próprio, o sucesso profissional deve-se a uma longa carreira ao mais alto nivel e, por muito que custe admitir à classe politica portuguesa. pouco ou nada neste feito se pode dever à acção directa de individualidades politicas nacionais. Coube a Guterres saber estar por cá até quando devia estar e saber sair quando devia e podia. Foi uma carreira gerida com pinças, cirurgicamente delineada. Centenas de pequenos passos rumo à maior das metas. 

Assim quis, assim foi.

Não consigo, ainda assim, ignorar que todos os cargos ligados a instituições como ONU, Unicef e afins parecem ocupar apenas um nome numa secretária, soam a cargos de representação e sem acção. Durante o seu mandato como Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Guterres foi visto centenas de vezes à volta de pessoas aparentemente bastante pobres, muitas crianças (também elas bastante pobres), vimo-lo envergar todo o tipo de vestuário (desde o tribal, passando pela camisa branca meia aberta, e pelo imponente fato), rodeado sempre por muitas pessoas e câmaras. No que vai para além desta vertente, é dificil lembrar ou associar ao homem qualquer tomada de decisão, qualquer comunicação directa que nos demonstrasse os problemas, as soluções, o passado, o presente e o futuro de tudo o que envolvia os refugiados. Sabemos que, nos últimos tempos, esta temática foi uma das mais sensíveis do ponto de vista social e político, nomeadamente na Europa. Ainda assim, não me consigo lembrar de uma participação directa, eficaz, explicativa e decisiva vinda directamente do eng. Guterres. Perguntem a cada português a quem amanhã se pede que vá para o trabalho com orgulho e arrisco dizer que a resposta será a mesma.

Cargos há muitos, e muitos há que são condecorações mascaradas de cargos. É justo dizer que o nosso ex-primeiro-ministro merece esta honra. Mas no meio deste festival político, onde estão as ideias, o debate e as soluções?