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A diplomacia portuguesa está de parabéns. Um dos postos mais importantes no universo politico internacional pertencerá, a partir de agora, a um português. É tremendamente importante o cargo que foi confiado a António Guterres e este deve ser, acima de tudo, um motivo de orgulho para todos nós. Infelizmente, é mais um daqueles orgulhos que é rotineiro, expectável, óbvio.
Vamos devagar: o mérito pertence ao próprio, o sucesso profissional deve-se a uma longa carreira ao mais alto nivel e, por muito que custe admitir à classe politica portuguesa. pouco ou nada neste feito se pode dever à acção directa de individualidades politicas nacionais. Coube a Guterres saber estar por cá até quando devia estar e saber sair quando devia e podia. Foi uma carreira gerida com pinças, cirurgicamente delineada. Centenas de pequenos passos rumo à maior das metas.
Assim quis, assim foi.
Não consigo, ainda assim, ignorar que todos os cargos ligados a instituições como ONU, Unicef e afins parecem ocupar apenas um nome numa secretária, soam a cargos de representação e sem acção. Durante o seu mandato como Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Guterres foi visto centenas de vezes à volta de pessoas aparentemente bastante pobres, muitas crianças (também elas bastante pobres), vimo-lo envergar todo o tipo de vestuário (desde o tribal, passando pela camisa branca meia aberta, e pelo imponente fato), rodeado sempre por muitas pessoas e câmaras. No que vai para além desta vertente, é dificil lembrar ou associar ao homem qualquer tomada de decisão, qualquer comunicação directa que nos demonstrasse os problemas, as soluções, o passado, o presente e o futuro de tudo o que envolvia os refugiados. Sabemos que, nos últimos tempos, esta temática foi uma das mais sensíveis do ponto de vista social e político, nomeadamente na Europa. Ainda assim, não me consigo lembrar de uma participação directa, eficaz, explicativa e decisiva vinda directamente do eng. Guterres. Perguntem a cada português a quem amanhã se pede que vá para o trabalho com orgulho e arrisco dizer que a resposta será a mesma.
Cargos há muitos, e muitos há que são condecorações mascaradas de cargos. É justo dizer que o nosso ex-primeiro-ministro merece esta honra. Mas no meio deste festival político, onde estão as ideias, o debate e as soluções?