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Vilipêndio

Vilipêndio

23 de Junho, 2016

A propósito de uma saída

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"Estrelas decadentes" , Christophe Marques, 2016 | behance.net/christophem 

Hoje vai a votos o futuro do Reino Unido na União Europeia e, por conseguinte, o futuro da mesma. As muitas sondagens poucas respostas deram e a hora de verdade chegou. Seja o resultado a saída ou a permanência, é fácil concluir que esta União que teimámos em unir ao longo dos últimos anos está doente e parece caminhar até ao ponto em que vai deixar de o ser.

São muitos e complexos os problemas europeus: dinheiro, fronteiras, emprego, política mas acima de tudo as pessoas.

A constante chegada de milhares de refugiados às fronteiras da Europa, fugidos não se lembram de onde - de um inferno esquecido, sabemos - enche o mundo de uma vergonha inqualificável. Vemos pessoas cujas vidas foram interrompidas por conflitos sem sentido e cujo único desejo é o de ter a possibilidade de ser normal. Contudo, no que à força da União diz respeito, este tema não parece ser capaz de fazer abanar o edifício. Isso acontece quando passamos das fronteiras externas e passamos à Europa que sofre por dentro. É aí que o cimento europeu treme.

É desigualdade a mais para tanta estrela junta.

As divisões que se vivem dentro deste pequeno pedaço da Terra não são menos das que se vivem noutras terras do mundo. Mas nessas paragens, pelo que se ouve dizer, não existem assim tantas divídas e bancos para pagar e isso acaba por ajudar.

Projecto fundado com o intuito de fazer avançar a Europa em direcção a um futuro com toda a pompa, a União Europeia é agora uma evidente tentativa falhada. A receita aplicada nos últimos anos aos países sob assistência financeira da troika, sem se ouvir um pedaço que seja da voz e da opinião individual do cidadão, foi o inicio da derrocada da credibilidade europeia.

Não há ninguém que não considere a ideia central da UE um projecto essencial do ponto de vista social, económico e demográfico, mas as bases têm que ser distintas, as formas de actuar não podem cheirar tão pouco a democracia e os cidadãos têm que ser a prioridade de todas as prioridades.

01 de Junho, 2016

Respirar, comer e ler

O dia acorda com pequenos nadas, 

enche-se de mais pequenos nadas, 

e no fim são só pequenos nadas

não imaginados,

não soletrados.

 

Perdemos comboios de vista

ao longo desta viagem

e fazemos a vida tender para o monótono

porque apenas nos é uma

e só a conhecemos assim.

 

Ler as páginas de um livro é essencial.

 

Poder descobrir mundos com os olhos.

Saltar da altura

de qualquer página de um livro escrito

 

Sem entender como é que letras

se transformam em memórias e experiências,

Sem ver que as palavras são mero veículo

para uma mente sedenta de mais. 

 

Por só podermos ser um,

único

aborrecido 

insuficiente

queremos ser mais um ou dois,

ou todos que couberem na grande sala da imaginação.

 

A vida são pequenos nadas

mas se no meio de tudo

não me lembrar de ler,

apaguem as luzes

e deixem-me morrer.