A História que sempre rima
Ilustração Christophe Marques 2016 @ behance.net/christophem
Lemos a História envoltos no conforto de a achar enterrada e ultrapassada, apreciando o que já foi e o que por lá fica. Interessamo-nos por ela com a doce certeza de sermos o resultado de algo tangível e não apenas um acaso dos acasos.
A História diz-nos quem viveu debaixo do mesmo sol que nós, quando este presente era futuro e o futuro não existia. A magia de querermos saber o que está para trás vive da nossa inocência de pensarmos no ontem - a única certeza que temos, hoje.
Mas a História vive e revive, repete-se sem ser igual.
A Europa de hoje respira ares perigosos e antigos, desde a sua direita à sua esquerda. Apesar de vivermos em anos que começam com um 2 e um 0, a modernidade só se vê no novo drone e na nova rede social, aplica-se a tudo o que não somos nós, enquanto que as mentalidades estagnam e retrocedem.
Seja na Hungria, na Àustria, na Dinamarca ou noutra qualquer latitude crescem os sentimentos que nos habituámos a associar a anos pintados de negro e a uma tal História. Mas a história - esta sem h grande - é bem diferente. Dividem-se pessoas por tipos e cores, conjugam-se formas de se eliminar determinados seres humanos de determinados sítios, fazem-se muros e soltam-se racismos.
Mais mascarado que no passado, o ódio vai ganhando raízes e crescendo à nossa vista, adquirindo a forma de política em muitos casos.
A religião continua a ter um papel central onde nem sequer devia entrar, ganhou o estatuto de disfarce e de desculpa para tudo o que seja absurdo.
Não se augura nada de positivo para os próximos tempos porque no mundo só interessa o que nada interessa.
Não é o 2 nem o 0 que fazem esse milagre acontecer.
Corremos o risco de, enquanto andamos distraídos com as nossas modernices, vermos renascer um qualquer Reich que, pensávamos nós, era História.