Novos desenvolvimentos no que toca ao destino dos jovens angolanos presos, em Angola, por cometer o crime de serem ligeiramente mais inteligentes que os demais. Algo ainda nos fazia crer que a leitura de livros, ainda que de uma forma notoriamente provocatória e fanfarrona como foi, não iria ser punida, porque vendo bem as coisas até não magoa assim tanto.
Mas foi.
Numa terra com um rei e demasiados príncipes, esta história seria mais um caso, mais um dia. Mas, envolvendo um cidadão luso-angolano, seria expectável um grito oficial cá do burgo, não muito alto, mas pelo menos audível.
Mas há valores que falam infinitamente mais alto. E esses andam sempre na casa dos milhões.
Entretanto, em mais um capítulo da saga Portugal não diz nada sobre nada nem faz nada a ninguém, parece que a Isabel dos Santos quer comprar a minha casa.
Só se... esperem... pois, já comprou todo o quarteirão.
Quando a página se vira à espera de novas palavras,
De uma nova história.
O momento de nos sentirmos novos,
de abrirmos bem alto os olhos,
e vermos que está tudo no mesmo sitio
e que apenas andámos um dia para a frente.
A manhã é a hora do dia em que o dia ainda não existe,
e que por não existir, só imaginado.
Ela enche-se de expectativa e futuro por ser a porta de um abrir que sempre vem.
De manhã tudo devia ser o leve acordar de um dia
e nada mais que isso.
O que se viveu em Bruxelas, e que faz parte do quotidiano de um certo mundo por nós ignorado, é o mais desumano de qualquer humano. É absurdamente aleatório. É também, ao que parece, terrivelmente eficaz.
Ser a mais bela forma de pássaro, ter asas e sair mundo fora, chegar a todos esses céus sem fim.
Levantar os pés do chão, de um chão que é sempre o mesmo chão e nos engole.
Se voar fosse só uma coisa mais, será que voaríamos? Ou sonhariamos imediatamente com outras vontades?
Sonhamos com voar, no caminho em que sonhamos muitos outros sonhos. Sonhar eleva-nos acima de nós mesmos, faz-nos achar ter poder em algo, quando na realidade nem somos responsáveis pelos sonhos que sonhamos.
Os pássaros voam, nós sonhamos em voar, e o mundo acontece-se.
Se tivéssemos asas, o mundo era igual, mesmo visto de cima.
Senhora de si mesma, moderna, estrangeira, esta nova Lisboa sabe o que quer e quem quer.
A calçada, velha e indesejada, teima em não sair do sítio, do sítio que é seu e que já não é só seu. A ela juntou-se novas formas de andar, novos passos rumo a uma modernidade desconhecida.
Este paraíso banhado a Tejo absorve tudo, sabe ser novo sem perder a magia do antigo.
Nascem vidas onde antes a vida não podia sonhar existir, e a nova cidade que nos percorre não sabe ser antiquada, aborrecida ou intransformável.
Que esta Lisboa possa ser de todos sem que deixe de ser só nossa.
Lisboa é o nosso mundo, é a nossa porta de abrir para aquele outro mundo lá fora.
Enquanto vamos e não vamos, a gente acaba por ir e não ir.
São passadas largas as que damos, com estes nossos pequenos pés e estas nossas pequenas coisas.
Andamos enquanto adiamos o que podiamos ter feito ontem, tropeçando em tudo o que nos aparece, caindo as vezes que tenhamos que cair, mas sabendo que estamos seguros pela nossa própria cabeça.
Há novos acordares, claro, e há novas palavras, cheias de não ter significado nenhum, cheias de um tremendo vazio.
Dão-nos um murro para dentro dos olhos, entregam-nos um mundo novo dentro daquele outro que conhecemos, que sempre olhámos mas que nunca vimos, à espera de o ler e de o fazer.
Nada será como dantes, porque nunca o é, e a existência impossivel de ambos faz o mundo andar para a frente, sem saber como parar.